Desde que me lembre, sempre me preocupei pouco com o envelhecimento. As vezes que fui ao médico, contam-se pelos dedos das mãos(felizmente) pelo menos desde os meus 10 anos de idade. Uma arreliadora gripe ou um resfriado mais ou menos duradoiro, foram as minhas maleitas de Verão e do meu cardápio médico. ”Olha que sortudo ! ”dirá o leitor mais atento… ”Ou o gajo é um tipo cheio de sorte, tem a sorte dos Deuses ou a sorte do código genético dos seus egrégios avós”. Pois nem uma coisa nem outra, pese embora reconheça que deverá haver algo para que isso aconteça.
Os chás de hipericão, tília ou outros que “Ti Matilde”, minha saudosa mãe me proporcionava, funcionavam como o remédio e o bálsamo para com esses “achaques “doentios que algumas vezes me visitavam…
“Tenho que ir ao médico”- digo tanta vez para mim próprio, quando umas “arreliadoras” dores de rins, de pernas e demais “dores” me invadem o corpo e a insónia das noites mal dormidas me formam a palidez doentia.
Compreendo então que os futebóis já não são para mim… A idade não perdoa e eu tento teimosamente em insistir com o corpo de hoje, aquilo que o meu corpo de há trinta e tal anos fazia…
Mas não é mais a mesma coisa. Nos tempos de hoje, os prélios futebolísticos e outras aventuras em que tenha que “puxar”pelo físico ,lembram-me amiúde que afinal estou a envelhecer. Mas, ao contrário de muito gente ,entendo que envelhecer é bom e tem o seu “charme”. As cãs e cabelos brancos que nos pintam o físico, dão personalidade e remetem-nos para a classe dos homens à “George Clooney”. Tento passar pelo envelhecimento como quem olha a passagem das estações do ano como uma bênção do destino.
O destino tem sido benévolo comigo e muitas vezes aceito sem grande resistência, a ideia de prolongar a vida através de abstinência, um comprimidito daqui e dali, agasalhos no Inverno e um “abifa-te e abafa-te” de quando em vez. Nunca fui dado a excessos e nunca segui dietas rigorosas (embora devesse). Minha esposa critica muita vez certos modos de vida que levo e recrimina-me muitas vezes os excessos após repastos futebolísticos e outras “jantaradas” afins. Não lhe levo a mal, mas caramba! Um homem também tem direito a mimos… ainda que lhe acrescente por vezes uns “percentis” de colesterol-mas vale a pena. A vida não teria o mesmo sabor, certamente…(?)
Limito-me a seguir a minha vida e assim cheguei onde cheguei (graças a Deus). Mas acredito perdidamente que envelheci muito nestes anos próximos e continuo a envelhecer. É bom sinal.
Cheguei a este meio século e às vezes parece que conto os dias, como um milagre, os meses, com uma desfaçatez desinteressada., os anos como se fossem grandes acontecimentos… O pior é que os acontecimentos que nos invadem e entram pela casa adentro nos tiram muitas vezes anos de vida. E esses sim, fazem-nos envelhecer.
Resta-me assim muitas vezes a contemplação das coisas que com a idade avançam de uma forma subtil aos nossos olhos: um entardecer com o sol a pôr-se para os lados da serra do Caramulo, o nascer do sol visto pelas 6h da manhã no Monte Colcurinho ou o som do rio Alva nestes fins de tarde de quase Verão (ali para as bandas das varandas de Avô), são como florações tardias que o envelhecimento nos traz.
Sinto que me encontro na idade perfeita (?!). O velho António Campos, meu pai, dizia-me muitas vezes que- “a um homem só custa chegar aos 55, porque passado isso, já não há mais idade”.
A avaliar pela sua provecta idade, parece que tem razão… A velha e manhosa filosofia de vida deu os seus frutos. A mim, e nesta idade, o tempo tem sido benévolo. Como digo muitas vezes, limito-me a contemplar. Acho que estou na fase da contemplação. Muitas vezes é só a passagem das coisas mais floridas da vida e onde o amor ainda tem o seu encanto. Sim, porque o amor perdura , a paixão enlouquece, o cinismo magoa, o desencanto apaga-nos e a amizade falseia-me muitas vezes…
É então que eu contemplo e sinto a mesma inclinação pelas coisas que ontem e hoje ainda me comovem e comoveram. É a velha melancolia das coisas que só têm sentido porque não as amamos muitas vezes como devemos. Acho que o tempo passa depressa… e envelhece-nos, devagar… muito devagar…
Ah!Esqueci-me que faço anos! Será que estou a ficar velho ?!!!!!
A.M.Campos