‘A cidade amiga do idoso é melhor para todos’

Convidado do Congresso Internacional do Envelhecimento, organizado pela Associação dos Amigos da Grande Idade, em Oeiras, o especialista passou os últimos 12 anos à frente dos programas de apoio ao idoso da Organização Mundial de Saúde (OMS). No final de 2011, lançou o Centro Internacional do Envelhecimento para criar políticas a favor dessa população.

Porque temos uma atitude negativa face ao envelhecimento?
Em grande parte é atávico; já os nossos mais remotos ascendentes faziam essa discriminação. A busca da fonte da eterna juventude sempre nos acompanhou. Agora ainda é pior. O belo e o bonito é o jovem: bombardeiam-nos com isso o tempo todo. Para uma pessoa idosa ser aceite, tem de ser carismática, bonita… E a maioria não é.
.

Acredita que o envelhecimento ativo vai acontecer naturalmente, com as próximas gerações?
Envelhecimento ativo não é desporto, nem botox. Segundo a OMS, trata-se de otimizar as oportunidades de saúde, participação e segurança, à medida que cada um envelhece. A pior coisa da idade é você viver sob a ameaça de que, de hoje para amanhã,vai ser abandonado e não há quem lhe cuide.
É curioso que, segundo essa visão, o envelhecimento ativo comece, exatamente, na infância…
Começa na fase embrionária: se a mãe fumar, esse futuro bebé já começou mal e hoje temos de preparar as gerações desde o início para isso. E há a revolução da minha geração, que não vai envelhecer como a do meu pai. Quero participar, quero protestar se for preciso.

Tenho isso noADN. Nós, os líderes estudantis que brigámos pelos direitos humanos, vamos lutar por essa mudança.
Como explica que se fale em baixar a idade da reforma, como aconteceu agora em França?
É um absurdo, um populismo barato, porque é insustentável. Cada vez que tiver pessoas idosas trabalhando, estão a contribuir para os seus países. Se trabalharem, não serão um fardo, pagam imposto, consomem, até ajudam a criar emprego, porque estimulam a economia.
É-lhe difícil perceber que as pessoas queiram parar de trabalhar mais cedo?
Sim, porque cria discriminação e mostra que ainda está muito embutida em nós essa ideia do envelhecimento passivo, calado, de pijama e chinelo, a fazer tricô. As pessoas não querem trabalhar mais porque não têm satisfação no que fazem. Sabia que a mortalidade é mais alta no primeiro ano de reforma?
É preciso convencer o mundo que envelhecer é bom?
E é muito bom. Você não tem mais amarras, não tem de fazer carreira e agradar ao chefe.
Agora, faço o que quero, digo o que quero…
Como vê a questão da sustentabilidade dos sistemas de saúde?
É um problema imenso. Mas quanto mais velha for uma população, menos onerosa será para o sistema de saúde. Morre em menos tempo, os socorros não serão tão he roicos nem prolongados. Só se houver lucro é que se investirá demais para estender essa vida — e isso também não é ético. Hoje, ainda há uma medicação excessiva do envelhecimento, na tal busca da juventude eterna.
É doentia, essa procura?
Sim e há uma indústria perigosa a fazer um montão de dinheiro.
Porque diz que a cidade amiga do idoso é amiga de todos?
Fizemos um inquérito para saber o que preocupa os idosos citadinos e disseram-nos: os seus melhores amigos são os porteiros. Os inimigos são os motoristas. É um bom exemplo: o autocarro é alto e isso dificulta ainda mais a vida ao velho. Mas se for fácil para o idoso, vai ser fácil para as crianças, para o obeso, para a grávida… Vai ser melhor para todos.

Deixar um Comentário

O seu E-mail não será publicado