Ao meu Pai…
sempre admirei a sabedoria manhosa e filosófica do velho Lúcio, meu pai. Diante da sua humilde e pouca formação escolar, meu pai arranjou sempre uma forma irreverente para me ensinar a “ver o Mundo”, como ele dizia…numa perspectiva muito ao seu estilo: paciente e calma. E eu tento.
Castigou-me pouco, talvez menos do que merecia, mas aprendi muito com ele. Aprendi por exemplo a ser e ficar calado. Aprendi a reconhecer um pouco a sua “vida interior”que decerto a tinha e sei do esforço que fazia para defender a felicidade do seu clã. Ele sustentava que as grandes meditações sobre a vida em geral eram uma grande chatice e que não se deviam levar muito a sério, pois dependiam de coisa tão banais como o cair das folhas dos plátanos ou o levantar de tendas na feira. É claro que a vida devia ser levada a sério, mas devagar, mansa-mente e sem arrelias.
“Leva a vida devagar…quando pensas que o Mundo te foge, tu é que foges ao Mundo”,dizia
ele tantas vezes (e ainda me diz). Aceito resignadamente este e outros conselhos, mas entendo que a vida poderia ser mais simples se só nos referíssemos às pequenas coisas, aquelas que se levam para a eternidade. Por isso, ao ouvi-lo, limito-me a sorrir. Outra particularidade do velho Lúcio, meu pai,sempre foi o seu desprendimento em matéria de “amostra sentimental”.Não era dado a “lamechas” e muito menos a “beijos e abraços”. Às vezes, “aperreava-me “bastante…Sempre teve uma forma estranha de me (nos Amar…). E só agora aos 50 anos eu percebi essa forma estranha de amar: rude e “sem jeito”. Mas acho que era assim que se amava. Ele e todos os pais desse meu tempo. Qualquer pai quer o melhor para os seus filhos, só que a técnica educativa é que é diferente. Na ruralidade desse tempo era assim.
Defeitos, qualidades ou virtudes todos nós temos. É por isso que também lhe reconheço alguns defeitos. E o maior talvez fosse“os rabos de saia”que sempre lhe atormentaram a vida(?). Os leitores que o conhecem sabem disso. Hoje porém eu pergunto :-Será defeito ou virtude?!A única virtude sobre isso é que nunca o escondeu. Louvo esse mérito.
Sempre foi um verdadeiro dandy, mulherengo e “boa figura”. Ainda hoje é um “velho” bonito. Para mim pelo menos…Celibatário q.b. Manteve isso como se de um troféu se tratasse. Reconheci-lhe sempre esse direito e ,mesmo quando o ouvia,nunca lhe exprimi a opinião sobre o assunto. Acho que havia nesse assunto como que uma espécie de conformismo existencial. Talvez o chique dessa época fosse não casar (?!!!).
A matriarca do c lã,a saudosa “Ti Maria”,minha mãe é que não apreciava muito isso. Mas eu sei que a Amava como ninguém. Do seu jeito,mas Amava.”A tua mãe, faz-me falta” diz-me muita vez , entre um nó apertado na garganta e uma névoa a turvar-lhe os olhos já um pouco “cansados”. Sinto que isso é verdadeiro,porque o conheço bem…Aprendi a conhecê-lo e a Amá-lo imensamente…
Acho portanto que o velho Lúcio, meu pai, sempre se imaginou num Mundo perfeito. Esse mundo escolhido por ele, idealizado, mas que procurava amiúde transmiti-lo aos filhos , mas subtilmente diferente-talvez por conhecer muito bem um pouco da histórias dos homens e das suas ilusões. O mundo é a soma das nossas imperfeições. Abençoado pai que pouco conheceu a dor da desilusão.
Feliz dia do pai – MEU PAI.
“Para qualquer dia do Pai”