Envelhecer na cidade e o penoso isolamento dos idosos de hoje

OS IDOSOS DE HOJE

Hoje os problemas são completamente diferentes.
Cerca de dois terços da população vive nas cidades, devido à maior facilidade de trabalho, às possibilidades de enriquecimento» ao tipo de vida que a cidade proporciona e, até, pela consideração que se goza aos olhos dos que permaneceram na aldeia.
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Ser assalariado ou funcionário é a mais frequente situação de trabalho na sociedade; daí decorre obrigatoriamente a necessidade da reforma, ou seja, a cessação de trabalho com consequente corte significativo de recursos, com o tédio decorrente da inactividade e da diminuição da luta pela vida. Por seu turno, a poupança tornou-se cada vez mais difícil e menos aliciante. Difícil, devido aos impostos, ao montante das despesas de primeira necessidade (renda de casa, alimentação, aquecimento…) e, ainda, devido às facilidades da sociedade de consumo; pouco aliciante, por causa das sucessivas desvalorizações da moeda, insegurança nacional e até mesmo universal.
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Apesar da boa vontade, os filhos não têm hoje as mesmas possibilidades que antigamente de tomar a seu cargo os pais idosos colocando estes em lar de idosos quando é possível, tanto mais que na cidade existe frequentemente o problema de alojamento. Outrora era fácil quatro ou cinco casais fazerem face às necessidades do pai ou da mãe ainda vivos; mas hoje a situação é completamente diferente, chegando mesmo a ser dramática quando a segunda geração é pouco numerosa e a terceira o é muito. A acrescentar a este facto temos um abaixamento do índice de natalidade. Em determinados países as baixas provocadas pela guerra fizeram com que 20 a 25% dos cidadãos idosos ficassem sem filhos, assistindo-se, deste modo, a uma passagem progressiva, quanto aos encargos materiais da velhice, da família para o conjunto da sociedade.
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Os idosos já não ocupam o lugar que tinham há sessenta anos. O respeito tomou-se menos profundo. Já não é o chefe da tribo a salvaguarda da tradição. Tem-se experiência, mas é-se ultrapassado pelos jovens em matéria de conhecimentos; daqui, advém o preconceito que nutrem os chefes de pessoal contra a colocação ou permanência no trabalho de um quinquagenário. Já não se tem o mesmo critério de valores; por vezes, explodem conflitos de gerações, tanto na família como nos locaís de trabalho. E quando o sexagenário está reformado pode ter a sensação de inutilidade.
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Envelhecer na cidade é arriscar-se a acabar os seus dias cada vez mais só. Há muitas pessoas idosas que não têm ou já não têm filhos; vivem muitas vezes afastados ou el lar de idosos, porque, normalmente, o alojamento dos casais jovens fica longe do centro das cidades, onde os pais continuam a viver. Nos grandes «dormitórios» predominam os casais jovens, sendo raros os casos de pessoas idosas.
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Devido à maior longevidade das mulheres, são sobretudo elas que ficam sós. Em Paris, por exemplo, muitas mulheres idosas vivem nos últimos andares de prédios muito antigos (80% construídos antes de 1914), o que, em parte, explica o seu isolamento, Estas mulheres evitam a todo o custo subir e descer escadas ou utilizar os meios de transporte, concebidos apenas para pessoas ágeis (escadas de acesso ao metropolitano, carruagens incómodas, degraus dos autocarros); também o atravessar das ruas, com o frenesim do tráfego, constitui da parte delas inconsciência ou heroísrno.
Não obstante, e apesar deste penoso isolamento, a grande maioria destas pessoas idosas não quer encarar a ideia de sair da sua própria casa — mesmo aquelas que, com mais de oitenta anos, vivem num apartamento do sétimo andar de um prédio sem elevador.
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Finalmente, a demografia modificou-se com os tempos. Hoje há mais velhos e a proporção entre as diferentes idades já não é a mesma; a população envelhece. A importância hodiema da questão das pessoas idosas e a necessidade de uma nova ciência que se ocupe de todos os problemas correspondentes são hoje uma evidência. A referida ciência dá pelo nome de «gerontologia» .

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