O Papel do Enfermeiro num Lar de Idosos

Texto de ENFº Alfredo lAurEeano e ENFª Graça Caria*

Nos nossos dias, com o aumento da esperança média de vida, os residentes dos lares são, na sua grande maioria, indivíduos com idade avançada, com certo nível de dependência e com mum vasto leque de patologias, tais como: psiquiátricas (ex.: demências, esquizofrenia, doença de Parkinson), do foro cardiovascular, diabetes, etc.

Desta forma, a equipa multidisciplinar assume um papel fundamental na qualidade de vida do utente.
Nesta equipa incluir-se o enfermeiro, o profissional com responsabilidades na prevenção da doença e promoção e restabelecimento da saúde dos utentes.
Num lar de idosos temos um importante papel, exercendo funções aos níveis:
.  da formação das ajudantes e dos próprios utentes,
. da organização no que se refere à área da saúde,
.  da gestão de stocks de material de consumo clínico e farmacológico,
.  da articulação/ encaminhamento com outros técnicos de saúde intra e extra instituição,
.  do apoio e esclarecimento de dúvidas de saúde aos utentes, seus familiares e amigos;
. da realização de técnicas inerentes à própria profissão.
. Devido à grande proximidade com o utente, o enfermeiro é muitas vezes o elo de ligação entre este e os restantes técnicos de saúde. Destacam-se, a título de exemplo, as inúmeras situações de urgência e emergência que, devido a uma avaliação em tempo útil pelo enfermeiro e articulação imediata com os médicos das Unidades de Saúde Santa Casa, são encaminhadas tentando minimizar, desta forma, os prejuízos na saúde do utente.
Como anteriormente referido, outro dos nossos papéis, relaciona-se com a formação das ajudantes de lar. São estas profissionais quem mais tempo passa junto dos utentes, prestando-lhes cuidados, como os de higiene e conforto.
Assim, cabe ao enfermeiro facultar-lhes formação a diversos níveis (individualizada, em grupo, e/ou em contexto de
trabalho) de forma a uma prestação de cuidados de qualidade, os quais trazem grandes benefícios para o bem-estar de quem cuidamos. mas o papel que desempenhamos na relação com o próprio utente é o que mais nos satisfaz profissional e pessoalmente.
Diariamente, estes recorrem a nós por vários motivos: uns vêem para lhes fazermos o penso, outros para nos comunicar o que não vai bem com a sua saúde e outros ainda simplesmente para falar, dizerem-nos bom dia ou darem um beijo.

As difíceis histórias de vida, as patologias e o abandono por parte dos familiares e amigos de que alguns dos nossos utentes são alvo, constituem infelizmente, o cenário da maior parte dos residentes nos nossos lares. Desta forma, o “saber estar”,o “saber ouvir” e o “saber sentir” mostram-se instrumentos essenciais no trabalho com o utente.
Outro instrumento importantíssimo é o uso  e abuso do humor. Para José (2002), baseada em  robinson (1991), o humor: “ quebra o gelo e as barreiras  sociais; reduz o medo; aumenta a segurança; torna o ambiente familiar; encoraja um sentimento de verdade e de confiança; inicia um sentimento de camaradagem e amizade que perdura no tempo;
torna possível brincar com procedimentos, com instrumentos; possibilita nivelar situações, nomeadamente de poder, servindo para diminuir a distância social; serve de caminho para a gestão construtiva de conflitos; reduz o embaraço e o desconforto de profissionais e doentes em situações como enemas, exposição corporal, banho …; une as pessoas; auxilia na adaptação e gestão a situações difíceis; … fornece à pessoa um sentido de controle da sua situação; facilita a expressão de sentimentos; mantém as relações sociais…”
Ainda para José (2002), baseada na mesma autora, “o humor e o riso desempenham um importante papel na manutenção de uma saúde psicológica e fisiológica, ajudando a fazer face ao stress da vida e promovendo assim o bem-estar das pessoas.”

Trabalhar num lar, como em qualquer área onde sejam prestados cuidados de enfermagem, é muito mais do que uma prestação de cuidados meramente  curativos e/ou preventivos e muito mais do que a realização das funções anteriormente citadas.
Ser enfermeiro é também, ter proporcionado à  D. Celeste (utente grande dependente, amputada  de um dos membros inferiores, cega e com deficit auditivo), um momento de alegria. Bastou simplesmente colocar-lhe uns auscultadores, ligá-los ao um leitor de CD com música tradicional portuguesa, carregar em “Play” e aumentar o som a um nível que conseguisse ouvir. É inesquecível a alegria e o som das gargalhadas da D. Celeste a bater palmas.
Ser enfermeiro, é também ter levado ao jardim a D. maria Fernanda, utente afásica, acamada e anquilosada  em posição fetal, na certeza que a utente  não via ou sentia o sol há vários anos. estes actos, à  primeira vista, podem parecer banais, mas é quase  impossível descrever o quanto foram importantes  para aquelas idosas. tentem fazer o exercício de se colocarem no seu lugar, e perceberão a sua importância.
Frequentemente, a estadia num lar de idosos termina com o extinguir da chama da vida. também nesta situação o papel do enfermeiro consiste em  ajudar tanto os que partem como os que ficam.
Ajudar a ter uma morte digna é talvez o último  cuidado que podemos prestar.
Para os que ficam, os cuidadores têm por vezes a tendência de esconder, de não falar nos que partem. este facto gera na maior parte dos idosos um sentimento de angústia e tristeza por sentirem que, se não se fala nos que falecem, quando chegar a sua hora, também vão ficar esquecidos. Cabe também ao enfermeiro ajudar a fazer o luto, falar e recordar
episódios, confortar.
Embora este artigo tenha como objectivo, dar a conhecer em traços gerais o papel do enfermeiro num lar de idosos, não podemos deixar de lembrar  que todos os elementos que trabalham num  lar (assistentes sociais, médicos, ajudantes de lar,  psicólogos, fisioterapeuta, massagista, voluntários, entre outros) desempenham um importante papel  e só através de um esforço conjunto se consegue  dar apoio ao utente nesta derradeira etapa da vida.
Apesar do trabalho com esta população ser de grande dureza psicológica e física, é também muito gratificante por ser normalmente reconhecido por aqueles que cuidamos.
Para concluir, quisemos saber o que os utentes residentes num lar da SCmL pensam e esperam de  nós, enfermeiros. Pedimos para o efeito que, de forma anónima e resumida, escrevessem um pequeno texto, de que transcrevemos alguns excertos:
“Uma pessoa que olhe por mim. espero paciência
com os velhos tristes e abandonados…”
“Ajudar os doentes quando eles precisam. É um
técnico com mais preparação que nos ajuda nas
aflições.”
“É um amigo que me ajuda quando preciso. É
um amigo que temos.”
“Um refúgio para muitas coisas quando nós precisamos.”
“Que nos assistam em momentos difíceis.”
“Serem atenciosos… “
“espero de um enfermeiro? Compreensão, carinho
e bom trabalho da sua profissão”
“É uma pessoa que me ajuda a curar. espero que
me tratem bem.” n
* Unidade de Saúde Santa Casa Bairro da Boavista  Trabalhar num lar, como em qualquer  área onde sejam prestados cuidados  de enfermagem, é muito mais do que  uma prestação de cuidados meramente curativos e/ou preventivos e muito mais do que a realização das funções anteriormente citadas

BIBLIOGRAFIA
JoSÉ, Helena (2002), Humor nos cuidados de
Enfermagem. Vivências de doentes e enfermeiros,
1ª edição, Loures, Lusociência, pp. 34-35.
104JULHO 2008 CidAdE SolidÁriA CidAdE SolidÁriA JULHO 2008 105

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