Há coisas passadas que têm uma inultrapassável vantagem sobre o presente: já não me dão muito cuidado. Periodicamente, dou por mim a lamentar-me e a ouvir lamentar o estado das coisas e o andamento do mundo. Perante isso, faço os meus balancetes e os meus resumos (muitos) de exploração.
Muitas dessas vezes,sorrio a esses discursos sobre o estado deste mundo e da nação. Uma verdade inquestionável é que o tempo sucede rapidamente ao tempo que passa.
Nem se dá conta e nem nos apercebemos que a sua velocidade cansa, mais do que distrai. Ora tudo isto se resume a uma coisa: passaram já 38 anos de uma revolta (prefiro chamar-lhe revolução) sobre o 25 de Abril de 74 e parece que os portugueses se desapegaram já dessas lides comemorativas e que o sucedido é só apenas uma recordação literária de algum anti-fascista mais arreigado que teima em recordá-lo e preservá-lo.
Tanto tempo já?! Verdade verdadinha é que este feriado (sobrevivente da austeridade deste governo democrático) merece ser recordado. Não por mim, que o vivi numa fase imberbe da minha adolescência, mas por todos aqueles que o viveram intensamente e o evocam como uma das “melhores coisas” que houve no Portugal do séc.XX.
Eu ainda acredito que sim…caramba! Apesar de tantas vezes eu “reconhecer” o meu saudosismo, sinto que esse momento foi um momento especial e que sem ele, talvez nem me atrevesse a esboçar esta crónica (também dependia do que escrevesse…). Às vezes questiono: Estamos melhor hoje ou ontem?
Acredito que muitos adoradores do regime do “velho Ditador”saberiam a resposta: estariam melhor ontem, talvez porque havia uma determinada ordem entre as ruínas, a idade ainda não lhes bulira na angústia das doenças e o mundo tinha fronteiras e metas bem definidas. Mas se eu perguntasse se “os portugueses estariam melhor antes ou depois do 25 de Abril? ”é possível que muitos achassem esta pergunta estapafúrdia e me chamassem todos os nomes e mais alguns ou então que alguém me dissesse que eu era um ingrato. Acreditem porém que às vezes ouço muita gente evocar o antes. Cá por mim, prefiro o presente porque como disse antes, o passado já não me dá preocupações. Tudo no mundo tem uma explicação e um dos grandes segredos é confiar no tempo. Há-de haver um tempo. Mesmo que esse tempo seja um tempo passado ou uma mera falsificação.
A evocação deste 38ºaniversário da revolução dos cravos, até que pode servir de pretexto para lançar um debate, uma reflexão sobre o futuro deste Portugal nas mais variadas áreas. E o passado( lá vem ele…) não pode ser esquecido. A responsabilidade da implementação e do viver Democrático, deve-se a esta revolução. O antigo regime era uma falsificação e os portugueses sabiam-no bem, mas escondiam esse ” medinho” de mudança, placidamente e com a eterna bonomia do “deixa andar e logo se vê”.
Passaram 38 anos, mas parece ter sido há uma eternidade, tal o abismo que nos separa dessa ditadura ainda próxima. Para além dos saudosistas em vias de extinção, alguém de bom senso poderá ainda defender um regime que assentava na violação dos mais elementares direitos humanos? Haverá ainda alguém que acredite que era possível a manutenção do sistema colonial?
Creio que não. Evocar a história para aprender com ela sim, fazê-la andar para trás nunca. Este meu povo adormecido e acostumado a um destino sem futuro, aprendeu o valor da liberdade. E, como alguém disse, bastou saboreá-la uma vez para nunca mais lhe esquecer o gosto. Oxalá que nunca azede…
O Mundo não é perfeito,mas quase.
A.M.Campos