Os fatores que estão diretamente relacionados com o processo de envelhecimentos podem ser agrupados em duas rubricas: agressões e estímulos.
O desenrolar da senescência vai processar-se sob esse antagonismo, que na vida civilizada dos nossos tempos pende muito mais para o lado nocivo: é a poluição tóxica; é a poluição sonora; o ‘stress’ constante, a aceleração progressiva, o sofrimento físico e moral…
E se temos a contrapor-lhe ações fisiátricas ou medicamentosas, apenas conseguimos, na grande maioria dos casos, ampliar, sim, o período de senescência, todavia em condições pouco invejáveis!
Nisto reside o nosso drama; mas se não podemos atalhar o processo evolutivo, talvez, que aprofundar a sua natureza e desenvolvimento nos conduza a uma senescência sem acidentes patológicos.
Em que consiste, na verdade, o patológico na evolução senil?
De certo, em formas de acuidade e grandeza evitáveis, pois que existem casos espontâneos em que o declínio, irremediável muito embora, decorre sem o alarme de grande sofrimento.
Seria, então, mais acertado falar em fisiologia do envelhecimento que não em fisio-patologia, se contivermos o processo dentro dos limites suportáveis que ostentam alguns privilegiados.
Para isso debrucemo-nos, de novo, em ideias assentes, mas em busca de outras interpretações.
Dado que o metabolismo endocelular se altera, modificando a formação e a ressintese das proteínas, são de esperar efeitos diretos na própria estrutura de órgãos e tecidos.
O mais significativo e evidente é, sem dúvida, a invasão progressiva do tecido conjuntivo por fibras colagéneas em maior número que nos tecidos jovens, mas também mais rijas e quebradiças.
Donde a fibrose que por toda a parte se generaliza, comprimindo e asfixiando a parte nobre e funcional dos tecidos.
O fenómeno irá passar-se ao nível das paredes vasculares encetando uma arteriosclerose progressiva.
Durante muito tempo se acreditou que o envelhecimento se instalava na razão direta do grau de arteriosclerose.
De facto, o compromisso vascular, afetando a circulação em todos os órgãos, acarreta problemas de nutrição que perturbam, reduzem ou mesmo liquidam o seu funcionamento.
A arteriosclerose estaria, portanto, na base do processo evolutivo senil, ditando-lhe as características mais ou menos rápidas e exuberantes.
Verificam-se, porém, casos de rica sintomatologia de uma senescência acelerada, a que não correspondem profundas alterações arterioscleróticas. Quer isto significar que deveremos minimizar a influência da arteriosclerose no envelhecimento? De modo nenhum:
apenas que o ‘primum movens’ deste complicado processo, não resida, afinal, na parede vascular.
Supomos que seja dos centros nervosos, através de impulsos neuro-vegetativos modificados, que emanam e se generalizam os transtornos senis. Depois instala-se o ciclo vicioso em que as alterações vasculares agravam a disjunção neurológica.
Seria, assim, lógico admitir que intoxicações exógenas e endógenas, abalos psíquicos e outros traumas, encetassem como tantas vezes se verifica, independentemente de arteriosclerose acentuada — a nossa ruína orgânica, a senescência precoce, geneticamente inesperada.
No bom ou no mau funcionamento dos neurónios, estará a nossa capacidade, maior ou menor, de resistir à decrepitude. Bom ou mau funcionamento dependente de influências não só circulatórias.
Se os mediadores químicos pelos quais os seus impulsos se transmitem a todas as formações do organismo, se mantiverem — a despeito da idade — imperturbáveis, o metabolismo celular a todos os níveis, permanecerá imperturbável também.
Parafraseando o aforismo de Casal/is, poderemos então afirmar: ‘O Homem tem a idade dos seus neurones’. Mas estes, quando morrem, são, infelizmente, insubstituíveis.
A interpretação neuro-biológica do envelhecimento — chamemos-lhe assim — permite-nos arquitetar esperanças de reabilitação, que doutra forma não poderiam ter qualquer fundamento ; assim como compreender que nuns indivíduos mais do que noutros o organismo resista à deterioração senil.