E A ESPERANÇA ?

Quase sempre é assim.
Por esta altura, quando o gelo desce ao povoado e esta “morrinha”que cai e teima em gelar-me os ossos e congelar-me as ideias, eu fico sempre com a sensação que  “acariciar e espevitar o lume” a ferro e aço, é a única coisa que agora me anima a alma e me aquece o espírito. Este mal estar momentâneo, não passará de um estado de alma que neste final de Dezembro me costuma acompanhar e sobrecarregar.
Então medito e penso (outra vez…) que mais um ano se passou e outro já se avizinha. É a luta inexorável e inevitável do tempo. E ele aí está. Mais um ano se aproxima e pelos vistos não irá ser nada bom. Sem me querer armar em ave de mau agoiro ,acredito e sinto-o (talvez pela primeira vez) que este vai ser o “ano do apagão” (como diz um amigo meu) ou então e sem querer ser tão fatalista, um “ano difícil…nada fácil…”(como diz outro dos meus amigos). Num ou noutro caso, tenho que dar a mão à palmatória e, reconhecer que vai ser um dos principais anos complicados da minha existência.

O orçamento infernal que o nosso estado nos apresentou, traz ameaças e medos. A bancarrota, a implosão do estado, a impossibilidade de pagar vencimentos e por aí fora, numa espiral de violência que atirará a maioria das famílias portuguesas para o território das preocupações obsessivas e da miséria. E medo. Medo de perder o emprego, de não pagar as prestações da casa, de não poder sustentar os filhos, medo de não pagar os estudos, etc…etc.
Este estado atual das coisas, é dizer às pessoas que tem que ser assim e não há outro caminho e que não se conhece outra porta para que, depois, haja um sinal de luz. E de quem será a culpa ? poderão perguntar os meus queridos leitores. Pois eu até acho que seria um bom debate este, sobre quem são os culpados que, na triste tradição portuguesa, acabariam por não ser responsabilizados por nada. Eu até acho que os culpados somos ou fomos todos nós. Não adiantam desculpas…em época de fartura foi, como se dizia “É fartar vilanagem…”. Bom,enquanto durou. Agora… talvez não seja por acaso que o fatalismo fadista é uma marca portuguesa (agora até já é património mundial).
Não há alternativa, dizem aqueles entendidos em finanças. E porque não há? pergunto eu que nada sei de finanças. Contudo, há uma coisa que sei. Nenhum cidadão, nenhuma família, nenhuma comunidade consegue viver sem esperança. Não a esperança fútil, daquela que se funda em discursos populistas e que apenas agrada ao auditório. Mas a esperança sólida, segura e sustentável que se alicerça em decisões, reformas e medidas de fundo. Aquela esperança necessária  que vence o sentimento de insegurança e medo que reina no país.
Reina uma insegurança generalizada entre os portugueses. Como disse atrás, quem tem emprego, tem medo de o perder. O desempregado receia nunca mais ter emprego, o empresário anda inseguro porque não sabe se tem crédito para segurar a empresa. O licenciado receia ter de emigrar para se governar (aquela do nosso primeiro em relação a isto, foi infeliz…). O trabalhador dos 40/50 anos está angustiado pela possibilidade de no final da sua vida ativa, ter apenas metade da sua reforma… O idoso ou idosa que vive no lar de idosos lá da aldeia ou mesmo da cidade mais próxima não ter dinheiro para suportar o custo do mesmo.
A tudo isto eu acho normal, pois foram anos e anos de  retórica ilusória e que nos foi inculcado. E nada disto será saudável, se permanecer no coração e na cabeça dos portugueses. A substância ética do trabalho, da responsabilidade, do compromisso comum, inscreve a ideia de esperança. Trabalhemos juntos porque assim será melhor. Soframos juntos, porque juntos nos salvaremos. Combatamos juntos, porque só assim será possível a vitória e a paz. O direito à esperança  não tem as páginas do “deve e haver”. Sobrevive-lhe e supera os dramas contabilísticos. E até os reconhece se a esperança permanecer intocável. Expectativas positivas  em relação ao futuro, discursos de incentivo ao crescimento económico, reformas estruturais que atraiam investimentos e gerem riqueza, precisam-se. Mas também é preciso que a par da mensagem da verdade, venha a da esperança. Ou o ministro da economia/finanças,ou o Presidente da República (tão calado que ele é…) nos entregam um caminho de esperança, por mais ínfimo e estreito que seja, ou pior do que um país arruinado, será um país mal-amado até à dor de alma mais aguda, sem um pequeno sol de redenção.
Ninguém é solidário com o inferno. Podemos atravessá-lo,mas com a convicção de que, mesmo sem Céu, há terra firme para caminhar com esperança. A vida dá voltas e nem os tempos vão para melancolias bacocas. Ou embarcamos todos com destino à glória ou à perdição, ou resignamo-nos. Cá por mim, prefiro a glória. E a Esperança.
FELIZ 2013!
A.M.Campos